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D I R E I T O    &    D E F E S A    D O    C O N S U M I D O R
01 / FEVEREIRO / 2008

CANALHAS E IMBECIS
Por Gladston Mamede (*)

        Descobri que o Supremo Tribunal Federal já teve um ministro de nome Pindahiba de Mattos. Assustei-me: para mim, pindaíba era um estado de penúria. “ Pô, cara, ‘tô’ na maior pindaíba!”Fui pesquisar. O Dr. Eduardo Pindahiba de Mattos nasceu em 1831, na província do Maranhão; em 1858, foi nomeado juiz de Direito em Mogi-Mirim (SP); em 1861, foi transferido para Turiaçu (MA); depois, Rezende (RJ) e Barra Mansa (RJ), em 1868 e 1874, respectivamente. Em 1878, foi nomeado Desembargador da Relação do Ceará, e, em 1894, já na República, tornou-se ministro do Supremo Tribunal Federal. Não viveu, porém, na pindaíba. A equação se resolve assim: a família Pindahiba tirou seu nome de uma planta, como também o fizeram as famílias Oliveira e Pereira. Pindaíba é um arbusto que os índios usavam para fazer “vara de anzol” e pescar. Assim, está na pindaíba quem, por dificuldade, precisa recorrer a tais procedimentos primitivos para sobreviver. Neste país injusto, não são poucos, infelizmente: basta dar uma voltinha na Lagoa da Pampulha para vê-los, todos na pindaíba.

            Pois é. Falamos sem saber o que estamos dizendo, como papagaios ou maritacas. Veja: conversávamos os três: um amigo lisboeta, uma jovem senhora e eu. A pobre falava de senões argüidos por seu marido, reclamando de um certo desdém e descaso. O amigo de além mar exaltou-se: “Seu marido é um canalha. Não percebe a mulher que tem.” A moça enrubesceu-se, no melhor estilo alencarino. Não sabia, esse foi o caso, que “canalha” é o o homem vulgar, inferior, gentalha que não sabe apreciar as coisas mais finas e elevadas da vida; no caso, ela própria.

            E o imbecil? Imbecil é pessoa de inteligência curta, de mente fraca; um idiota. Aliás, a mesma idéia em etimologia diversa: “imbecillis” é latim e “idiotés” é grego. No latim temos ainda “stupidus”, que nos dá a estupidez, qualidade também própria dos mais burros. Pobres burros. São mais inteligentes que os cavalos, mas, ainda assim, “pagam o pato”.

            Até para xingar é recomendável um dicionário. Já vi muita gente ser chamada de crápula; nenhum dos ofendidos, contudo, era pessoa devassa, descomedida, que come e bebe em demasia, além de viver na libertinagem. Pior: os crápulas que conheço – e são muitos, alguns bem amigos – nunca foram chamados assim.

            E babaca? Babaca, ou basbaque, é pessoa simplória, ingênua, bobinha. Gente que vive embasbacada, estado que aos comuns se permite muito eventualmente, em circunstâncias justificadas. Não é nesse sentido, todavia, que normalmente se chama alguém de babaca, mas para dizer “esnobe” ou “metido” (de “intrometido”, “presumido”). Se bem que, no tupi (língua falada no Brasil até a intervenção do Marquês de Pombal), “babaquara” significa “o que nada sabe, mas manda”, segundo o Houaiss.

            Diferente é um amigo bacharel de quem ouvi, certa feita, adjetivar um cidadão de “trapincola”. Ouvi e anotei. Chegando em casa, corri ao “pai dos burros”. Trapincola é aquele que, de má-fé, não paga dívidas, não cumpre contratos. Perfeito para o gajo em questão. Um trapincola! Bem xingado: descrito com a peja certa e não só ofendido com uma palavra feia.

(*) Gladston Mamede, colunista-titular do Portal Brasil, é bacharel e doutor em Direito pela UFMG, Diretor do Instituto Jurídico Pandectas, autor da coleção
"Direito Empresarial Brasileiro" e do "Manual de Direito Empresarial" (Editora Atlas) - E-mail:
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