Área Cultural Área Técnica

 Ciência e Tecnologia  -  Colunistas  -  Cultura e Lazer
 
Educação  -  Esportes  -  Geografia  -  Serviços ao Usuário

 Aviação Comercial  -  Chat  -  Downloads  -  Economia
 
Medicina e Saúde  -  Mulher  -  Política  -  Reportagens

Página Principal

M O T I V A Ç Ã O   &   E M P R E E N D E D O R I S M O
1 6  /  J U L H O  /  2 0 0 9

Dra. DENISE AMARALTEMPO - UM BEM PRECIOSO
Por Denise Amaral (*)

            Durante todo o tempo em que escrevi “Crianças podem voar”, preocupei-me em preparar meus filhos para a vida. Para que fossem capazes de sonhar e pudessem realizar seus sonhos. Para que fossem grandes em tudo o que fizessem, de forma a poderem “pensar grande” também  quanto aos seus objetivos. Para que seus olhos e seus corações vissem o mundo como algo a ser conquistado, e o bem como algo a ser realizado. Durante os anos, eles foram sendo alimentados com informações e moldados com orientações, acompanhados e estimulados, passo a passo, oportunidade a oportunidade, para que estivessem prontos a abrir suas asas no momento oportuno, e vencer a imensidão do mundo com graça, autonomia e segurança. Pois as crianças podem voar...

            Mas durante todo esse processo apaixonante, tanto nossos corações como nossas mente estavam tão ocupados em amar e em traduzir este nosso amor em gestos e palavras, que em nenhum momento paramos para considerar qual seria a nossa sensação, como pais, quando, da altura de nosso ninho, como uma águia, tivéssemos que assistir o primeiro vôo solo de nossas crianças – aquele que os levaria para a independência, para a liberdade de definir seus próprios rumos e escolher suas próprias rotas.

            Preparamos nossos filhos para voar, mas não nos preparamos para a sensação que toma nossos corações ao vê-los abrir suas asas, juntar suas forças, armar sua coragem e enfrentar as alturas com a elegante segurança de quem sabe o que quer, e se sabe perfeitamente capaz de conseguir. Somos águias, mas o peito se aperta com uma sensação muitíssimo humana.

            Aos poucos, o coração se acalma. É apenas uma mudança – uma grande mudança. Saímos dos bastidores, onde por tanto tempo preparamos o espetáculo, e passamos para a platéia. Agora, só nos resta admirar o desempenho e o talento de nossas crianças, enquanto contam sua própria história, enquanto vivem, no palco da vida, o seu papel.

            Para muitos a mudança é tranqüila. São pequenos vôos, rápidos, curtos, que aos poucos vão se estendendo, ao mesmo tempo em que se estende nossa capacidade de aceitar sem temer demais. Pois os temores são nossos – não deles.

            Mas às vezes somos tomados de surpresa. E uma criança, que para nós parece ainda tão pequena, de repente se mostra pronta e disposta a enfrentar o mundo, a ir muito longe, e de uma vez só. Mas não foi para isso que a preparamos? Afinal, só o que ela está dizendo é que, no que nos coube, fizemos um bom trabalho. E isso, somado aos seus talentos e capacidades pessoais, permite que ela conquiste as alturas, sem se preocupar se é cedo ou tarde demais. É o seu tempo – o único que realmente importa.

            Essa percepção brusca da realidade faz com que nossa reação seja igualmente drástica – contemplamos a perda, mas de uma forma bem menos triste do que seria, por exemplo, a morte. Claro, ninguém está morrendo, apenas nos lembrando de que cada criança nasce e é preparada para viver sua própria vida, o que pode ser aqui perto ou muito longe, e que os pais, apesar de terem tido um papel relevante nos primeiros anos, vão sendo substituídos – o que é natural – por outras prioridades.

            A vida é efêmera – e passa com uma velocidade realmente estonteante. Estamos tão preocupados em fazer coisas que durem através do tempo que nos esquecemos de aproveitar o tempo que nos é concedido para viver a vida em plenitude. Deixamos que momentos importantes escorram através de nossos dedos, perdemos muitas oportunidades de abraçar as pessoas que amamos, de dizer a elas o que sentimos, de prestar atenção – realmente – ao que elas estão nos dizendo... E é justamente no momento em que nos acenam com sua partida iminente que percebemos quanto ainda temos a dizer, quantos passeios queremos fazer juntos, quantas experiências queremos compartilhar ainda, quantos momentos de silêncio queremos dedicar a, simplesmente, abraçar. Sem pressa para fazer nada, ou ir a lugar algum.

            Quando eu estava com meus dois primeiros filhos bem pequenos, algumas pessoas questionavam meu hábito de tirar as roupas da máquina de secar, dobrá-las, e guardá-las sem passar. E eu dizia a elas que perguntassem às crianças se preferiam ficar em casa enquanto a mamãe passava roupas, ou ir ao parquinho com a camiseta sem passar. Alguém tem dúvidas quanto à resposta?

            Hoje, ninguém se lembra de roupa alguma, mas todos temos recordações deliciosas de sair todas as manhãs para brincar e passear.

            Claro que cada época da vida tem suas prioridades – e não deixar que o marido ou os filhos saiam sujos ou amarrotados para a escola ou o trabalho também são um gesto de amor. O importante, para estarmos em paz, é que saibamos identificar a cada momento de nossas vidas o que é realmente importante. Às vezes é falar, às vezes calar, outras vezes se ausentar, algumas outras ficar... E se nos habituamos a olhar o mundo com o coração, ao invés de utilizarmos apenas os olhos, e se ouvimos as pessoas com o coração, ao invés de apenas escutar o que dizem com nossos ouvidos, as prioridades se tornam muito claras.

            Podemos viver em uma sociedade consumista, repleta de desigualdades, orientada por valores mesquinhos e conceitos morais equivocados, mas ainda temos – e sempre teremos – dentro de nós tudo o que é necessário para alcançarmos a felicidade plena. Se conseguirmos seguir os nossos valores, apesar da pressão que o mundo exterior exerce sobre nós o tempo todo, conquistaremos a paz.

            E estar em paz significa não ter que duelar com dúvidas quanto ao que fazer agora, diante do arrependimento de tudo o que já deixamos de fazer. Estar em paz é ver um filho seguir seu próprio rumo, sabendo que você compartilhou com ele os caminhos que o trouxeram até aqui, e que está bem preparado para enfrentar qualquer desafio. Estar em paz é saber que, mesmo que passe muito tempo sem que possa lhe falar, as suas palavras todas – e os seus sentimentos todos – estão marcados profundamente em seu coração.

            Vejo os dias que passam como uma oportunidade contínua de criar memórias – e me esforço por criar boas memórias. Diante de um quarto desarrumado, me pergunto o que prefiro: que meus filhos se lembrem de uma mãe que brigava, reclamava e dava broncas, ou que se recordem de uma mãe que, sorrindo, ajudava a arrumar a bagunça no final das brincadeiras? Acho que a melhor forma de ensinar a virtude da ordem é mostrar que um lugar arrumado é mais bonito e mais gostoso, e que fazer com que a casa seja um lugar agradável e aconchegante para todos é também um ato de amor.

            Educar é necessário, claro – pois como bem diz Içami Tiba, “quem ama, educa” – ou seja, ensinar um filho a se dar bem em qualquer lugar, a enfrentar com serenidade todas as situações, a saber se comportar de acordo com o momento e o lugar em que está, é um gesto de amor. Mas a educação não precisa ser uma tortura, nem os pais precisam desempenhar o papel de algoz. Não se trata de repetir mecanicamente gestos determinados ou palavras que sejam apropriadas – as atitudes devem ser uma manifestação exterior do que se passa pelo coração de cada um de nós. Educar, então, é semear amor verdadeiro – a partir daí, o mundo todo se transforma. Pois sentimentos bons se traduzem em ações apropriadas.

            O tempo é um bem precioso – precisamos saber utilizá-lo com sabedoria para que o futuro não nos surpreenda com arrependimentos e culpas. Não deixe que o turbilhão de coisas para fazer o engula, tire seu fôlego, e o jogue na praia exausto, assustado, e repleto de arranhões. Que o momento de “desacelerar” possa encontrá-lo alegre, bem disposto, com muita saúde, e com um livro de recortes muito grosso repleto de bons momentos para recordar e compartilhar.

(*) Denise Rodrigues do Amaral é escritora, advogada e pós-graduada em Teoria da Comunicação, especialista em comunicação e produtividade.
É autora do livro "Crianças podem voar", publicado pela Editora Internacional e possui mais de 400 editoriais publicados na área de relacionamento no trabalho.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO AUTOR

Leia aqui mais colunas sobre Motivação & Empreendedorismo


FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI