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M O T I V A Ç
à O & E M P R E E N D E D O R I S M O
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/ S E T E
M B R O / 2 0 1 0
UM
SOCO NO ESTÔMAGO
Por Professor Marcos Cintra (*)
Vivi recentemente uma triste e pungente experiência. Observando as fotos das arruaças ocorridas em Paraisópolis, quando moradores daquela favela depredavam propriedades e agrediam pessoas em combate campal com a Polícia Militar, identifiquei jovens que eu conheci algum tempo antes em circunstâncias totalmente diversas.
Lembrei-me deles sem as feições embrutecidas que exibiam durante as arruaças, mas como saudáveis meninos pegadores de bola em uma academia de tênis. Eram jovens com idade entre nove e 12 anos que, após o período escolar, ganhavam alguns trocados participando como auxiliares de partidas de tênis.
Nos períodos de ociosidade das quadras, brincavam entre eles, jogando tênis e tomando gosto pela prática salutar da cultura física.
Não tinham salário nem horário fixo e obrigações a serem observadas. Apenas passavam seu tempo pegando bolas em troca de alguns reais para suas despesas.
No passado, esse costume induziu vários desses jovens pegadores de bola a se tornarem profissionais em suas respectivas modalidades esportivas. Outros acabaram cursando faculdades de educação física. Outros ainda se profissionalizaram como treinadores. E tudo como resultado dessa convivência lúdica com o esporte e com o aprendizado de uma técnica ou de uma profissão.
Chamava-me a atenção que o dono da academia exigia desses meninos que mostrassem seus boletins escolares, chegando até mesmo a impedir que frequentassem a academia enquanto não demonstrassem que suas notas eram adequadas.
Um dia, as autoridades baixaram no recinto e proibiram, sob alegação de trabalho infantil, que esses jovens continuassem naquelas condições.
Cumprindo as determinações da legislação trabalhista, nossos zelosos guardiões da lei não deram alternativas aos meninos pegadores de bola, a não ser perambular pelas esquálidas ruas da favela.
Como a ociosidade é a mãe dos vícios, tempo depois, como pude constatar, aqueles meninos, já adolescentes, acabaram engrossando as fileiras dos baderneiros e servindo de massa de manobra para os bandidos e traficantes daquela região.
Não é minha intenção criticar as autoridades, que apenas cumprem a lei. Como foi dito por elas ao proprietário da academia, naquele caso específico, sentiam-se incomodados por terem que cumprir suas obrigações legais, mas afirmaram que era comum casos de flagrante exploração de trabalho infantil, uma prática universalmente repudiada e a ser extirpada de nosso meio.
Vem então a pergunta: o que fazer?
É triste ver que aqueles jovens não puderam encontrar caminhos que evitassem que fossem transformados em meliantes e bandidos em potencial.
Como secretário municipal do Trabalho de São Paulo, proporei ao prefeito Gilberto Kassab que procuremos o Ministério Público e o Ministério do Trabalho para a celebração de um acordo criando um programa que recupere práticas como a que presenciei no passado naquelas quadras de tênis. Outras prefeituras poderiam fazer o mesmo.
Quem sabe a cada bola lançada para uma raquete haja um coquetel molotov a menos arremessado com ódio na cara do cidadão de bem.
(*) Marcos Cintra
Cavalcanti de Albuquerque é
doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e
vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
Internet:
www.marcoscintra.org / E-mail:
[email protected]
- Twitter:
http://twitter.com/marcoscintra
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