Valores maleáveis, por Denise Amaral

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Valores maleáveis
Por Denise Amaral (*)

Quando falamos em princípios e valores, a maioria das pessoas parece concordar. Ninguém gosta de corrupção e roubalheira, todos gostam de justiça e lealdade, e o bem é melhor do que o mal. Sem grandes novidades, aqui. Mas quando nos aventuramos mais a fundo na conversa, e as pessoas têm a oportunidade de elaborar um pouco mais suas ideias e expressar de forma mais abrangente os seus pensamentos, podemos nos preparar para uma boa surpresa!

Pois a noção de “princípios” e “valores” sofreu certo alargamento através dos tempos, e de material rígido e duradouro passou a uma massa disforme e moldável, que muitas pessoas adaptam a seus interesses e necessidades, e ainda assim conservam a sensação de estar agindo de acordo com a ética e os bons princípios.

Mas estes valores básicos, como lealdade e justiça, integridade e honestidade, são estradas de mão dupla. Afetam as duas partes de uma relação. Assim, quando sou justa com você, minha atitude afeta diretamente sua vida. Quando sou injusta também. E se decido adaptar a ideia de justiça aos meus interesses particulares, a despeito dos seus, posso dizer que estou sendo justa, posso até mesmo me convencer de que estou sendo justa, mas ainda assim estarei cometendo uma injustiça com você.

Muitas pessoas fazem uma grande confusão com estas ideias, pois são levadas a acreditar que posição social, poder ou riqueza material, são fatos que as colocam acima da verdade – ou melhor, em uma posição que permite que determinem suas próprias “verdades”. Podem até ter boa intenção, podem inclusive enxergar certa prosperidade ao seu redor, mas sua visão é limitada a um mundo pequeno e irreal, do qual elas são o centro. O que acontece além das fronteiras de si mesmo, além dos limites dos seus benefícios pessoais, é simplesmente ignorado. Mais ou menos como naqueles contos de fadas, em que a rainha má vivia em luxo extremo, e mantinha a nobreza com grande fartura, enquanto o povo sofria com inúmeras dificuldades. A realidade além dos muros do palácio não interfere em sua relação diária com a prosperidade.

Há muitos destes indivíduos poderosos vivendo no interior de seus castelos modernos, alimentando a ilusão de que o mundo se limita às suas empresas, e que os valores que ali predominam são corretos e eficientes.

O certo, no entanto, é o certo, mesmo que não me beneficie naquele exato momento. A verdade é a verdade, mesmo que me coloque em posição desconfortável. A justiça é a justiça, mesmo que seja a favor do outro, e não a meu favor.

Encobrir um erro salva a pele de um, mas gera consequências para outro. É como incriminar um inocente, e deixar que pague por um crime que não cometeu.

Em um mundo moralmente conturbado como este em que vivemos hoje, defender valores absolutos é campanha heroica. Mas optar por valores maleáveis é condenar a sociedade a construir seu futuro sobre uma estrutura sem qualquer rigidez e, consequentemente, sem a menor segurança. Não se pode erguer um edifício sobre alicerces de borracha. Tampouco uma sociedade sobre princípios e valores que se movam de acordo com a insanidade dos poderosos do momento.

O bom empreendedor, aquela pessoa que trabalha pelo verdadeiro sucesso, deve caminhar na direção do que é justo, íntegro e certo, mesmo que tenha que tapar alguns buracos ou deslocar as pedras que atrapalham seu caminho, sem tentar escapar por trilhas alternativas (o que pode parecer uma atitude muita esperta, mas esperteza nem sempre combina com bons princípios, nem define valor moral). Desbravar um caminho e construir uma rota segura para a prosperidade permite que outros o sigam sem desvios obscuros – este é o verdadeiro líder. Pessoas nas quais se pode realmente confiar.

(*) Denise Rodrigues do Amaral é escritora, advogada e pós-graduada em Teoria da Comunicação, especialista em comunicação e produtividade e membro da CCF – Certified Coaches Federation.
É autora do livro "Crianças podem voar", publicado pela Editora Internacional e possui mais de 450 editoriais publicados na área de relacionamento no trabalho.

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